segunda-feira, 14 de junho de 2010

“That’s when two people become one”.

[Essa história tem os personagens principais da série de televisão Bones e algumas de suas características. Recomendo a quem ainda não assistiu o último episódio da 5ª temporada a não ler.]



Era um simples olhar atravessando o meu caminho. Olhos brilhantes e emotivos que me lembravam a uma criança. Globos puros e inocentes. Creio que todas as histórias devem começar com um olhar. Seja este de amor ou de ódio, de carinho ou de sedução, de esperança ou de compaixão. Seja expressando todos os sentimentos dentro de si – dos mais simples aos mais complexos – ou então dono de um vazio. Não importa, na verdade. Pois apenas um único olhar transforma toda uma vida.

Foi em meio a um de meus dilúvios imaginários que me deparei com uma jovem de cabelos castanhos e olhos azuis expressivos. Ela estava sentada na escadaria da praça central de Washington, D.C., agarrada-a as abas do casaco e olhando para todos os lados como uma criança que espera os pais atrasados. Perdida. De primeira, eu continuei a andar. Porém mal havia dado poucos passos e voltei para olhá-la. Uma solitária lágrima caía por sua face pálida. Procurei em volta, mas ninguém se atentava a tristeza dela. Então, com um suspiro, me dirigir a ela. Sentei-me ao seu lado e vi seus olhos se arregalarem de surpresa... E medo.

- Você está bem? – perguntei dispensando sua expressão.

Ela apenas fez um gesto para se levantar. Ergui-me junto a ela.

- Desculpe. Sou Seeley Booth, agente do FBI – estendi a mão para cumprimentá-la, que pareceu receosa ainda. – Eu apenas queria me certificar se você estava bem.

Pude perceber que ela ainda hesitava. Sua mão igualmente pálida encontrou-se com a minha num choque. Quente e gelado. Entretanto esqueci-me desse simples detalhe ao escutar sua voz, um pouco trêmula verdade seja dita, mas incrivelmente bonita.

- Temperance Brennan, estudante de antropologia – pareceu incerta e sorri de lado. A garota era desconfiada e isso era uma boa característica nos dias atuais.

E foi a partir daquele instante que ela entrou na minha vida, exatamente com aquele olhar que a Temp transformou a minha história invertendo o seu rumo e girou o meu mundo de cabeça para baixo. Após convidá-la para um café numa lanchonete próxima, ela jamais saiu de perto de mim. E eu jamais saí de perto dela. Éramos como ímãs, sempre nossos pólos se atraíam e se colavam com força e desespero. Todos os dias nós tomávamos café juntos, no início dizia para mim mesmo que estava apenas ajudando-a a superar o desaparecimento de seus pais. Depois de um mês sumidos, o caso foi dado com encerrado e aquela jovem, preste a terminar seus estudos, se encontrava sozinha no mundo. Mas os cafés se tornaram diversos passeios e, apesar dos seis anos que se impunham entre nossas idades, Temp era excepcionalmente inteligente, esperta e divertida. Gostava de ouvi-la contando suas histórias, mesmo que a maioria envolvesse um sapo decepado e ossos apodrecidos em algum lugar do mundo, eram interessantes. E me sentia a vontade para compartilhar as minhas. Era inovador suas opiniões e observações sobre alguns de meus casos. Podia até estar quebrando algumas regras por contá-la, mas ela me ajudava, clareava minha mente com suas suposições.

Dois anos se passaram e nossa amizade era concreta, sólida. Ao contrário de meu casamento, que a única solidez que deu foi Parker – um garotinho loiro de sete anos que adorava assistir baseball comendo cachorro quente e coca-cola entre Temp e eu numa arquibancada lotada de gente -, meu filho. A Temp adorava sair conosco nos fins de semana em que ele passava comigo, após meu divórcio. Mas a amizade não foi a única coisa sólida na vida dela, a jovem que havia conhecido nas escadarias, agora era a Doutora Temperance Brennan, antropóloga forense do Instituto Jeffersonian. E ela havia se tornado uma bela mulher, segura de si mesma. Às vezes me pego pensando se eu realmente participei do desabrochar de sua vida. E em muitas outras vezes também me pego pensando que quero participar de tudo que se diga a respeito dela.

Faltavam três semanas para o aniversário dela e eu tinha mente fazer-lhe uma surpresa que mudaria nosso destino, para positivo ou negativo. Havia encomendado um bolo de chocolate com nozes, o preferido dela. E estava a caminho de uma joalheria quando um telefonema me pegou desprevenido. Tive que desviar do meu caminho e, como fui informado mais tarde, do meu objetivo. Toda a esperança havia sumido com a carta que tinha nas mãos. Não era apenas uma solicitação, mas sim uma convocação. Eu não podia deixar para lá, ia contra todos os meus ideais. E foi por isso que ao passar na joalheria, saí com uma caixinha de veludo maior da que pretendia sair mais cedo.

No dia de seu aniversário eu estava tenso. Preparei-lhe um jantar e abri um vinho. Ela estava feliz, seu olhar refletia isso, brilhava. E eu tinha a convicção de que no final da noite aquele olhar, que há dois anos transformou minha vida, iria voltar. Suspirei e trouxe-lhe o bolo. Após um rápido e simples happy birthday, ela estava se rendendo aos encantos do chocolate. Eu a observava com um sorriso saudoso no rosto quando ela ergueu seus olhos do prato. Indagou o que eu tinha e não pude mais adiar aquela confissão inoportuna. Contei-lhe com a voz falha sobre o treinamento que teria que fazer com os Rangers no Exército, que teria que partir no dia seguinte. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela ainda tentou me animar:

- Esse vai ser um grande acontecimento na sua carreira, Booth – ela arriscou um sorriso que para mim pareceu mais uma careta.

- Temp… - comecei a balançar tentando negar aquilo, não era pela carreira e sim o que eu era. O que eu havia nascido para ser. Mas quando ela apareceu deu outro significado para na minha vida. E eu estava preso entre a vontade de ter ambos.

E apesar de não saber como explicar aquilo, ela pareceu me entender apenas me olhando.

- Eu sei – uma lágrima escorreu por sua face e meu coração se comprimiu de dor -, eu amo esse Booth, foi ele que sempre amei e sempre vou amar – levantou-se e se aconchegou em meu colo. Abracei-a com força, minhas próprias lágrimas caíam.

Demoraram alguns minutos para acalmarmos aquela dor agonizante. Afastei-a um pouco, estiquei o braço e peguei a caixinha. Olhou-me surpresa como se não esperasse que eu a agradasse, poderiam se passar quantos anos fossem, mas a Temp continuaria tendo parte daquela jovem assustada e desconfiada de antes. Ao abrir a caixa, vi seus olhos brilharem com lágrimas novamente ao ver o delicado cordão de ouro preso ao infinito. Tive a certeza quando coloquei meus olhos naquele símbolo. Era o que ela significava para mim, o infinito, que estaria sempre comigo aonde quer que eu fosse. Sim, ela estaria comigo, e disse isso.

- E você comigo – retribuiu já chorando novamente.

No fim daquela noite, quando nos despedimos – uma despedida que seria longa demais ao meu ver -, ela sussurrou em meu ouvido:

- “Booth, don’t be a hero. Please… Just… Don’t be you”.

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